sábado, 31 de dezembro de 2011


FOGO  E  VENTANIA

Eu teria a sorte se ela me tivesse também
Mas estamos assim, cada um na sua, amizade crua
Conversa nua de especulações
Eu nem ligo pra rotina se ela nada me acrescenta
Eu ligo o rádio e ignoro sua presença
Estamos prestes a nos desafiar

Mas a esperança sempre se veste muito bem
Com adornos que roubam minha atenção
Eu sigo a tua pista calçando meus princípios
Já vou indo pois, me fascina todo início

A quem estancou minha confiança
E acha que não posso escalar paredes
Nem resolver minha fome, minha sede
Quem acha que eu não acho meus caminhos
Eu sobrevivo ferido e sozinho
Renasço das cinzas, sou de fogo e ventania

Não queira provar pra ver que eu sou eu
Mais eu, mais eu, mais eu...

domingo, 11 de dezembro de 2011


FLERTANDO...

Flertar é um exercício da dedicação?
Ou um exercício do instinto?
Não! Flertar é sentir-se vivo...
É não ignorar o bonito
O passeio dos olhos, das pernas
O caminhar da imaginação
Do encontro das pernas...
As pernas que carregam o busto
De um rosto devorado pelos olhos
Par de olhos perdidos
Tais dois garotinhos com frio
No vazio da multidão
Mas olhos mesmo, só se encontram
Em outros mesmos olhos
Que passeiam pela diversão das pernas,
Pelo exercício das pernas,
O instinto das pernas...
O exercício do instinto
O instinto do flerte
O flerte sem compromisso
O sorriso, o início...
...pra terminar fatalmente
no aconchego dos olhos
O ponto final do flerte
O nó cego do vício...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011


O  ALBERGUE  DAS  GÁRGULAS

Das pequenas e grandes coisas
que estão erradas em minha vida, há as identificáveis,
foi analisar e constatei; preciso voltar os olhos à mim,
reaprender a gostar, me gostar, acender meu amor-próprio,
adula-lo e dançar em volta de sua chama,
num ritual de horas ou semanas.
Detesto dançar mas preciso fazer isso por mim,
necessito me amar, voltar a me apaixonar
como à tantas vezes por outras mas, à mim saudavelmente.
Preciso soletrar meu nome sem narcisismo e,
tirar debaixo do pó do tempo, todos os bons adjetivos,
lustra-los de maneira que reluzam minhas boas companhias,
é disso que eu preciso; porém, sem os dedos do egoísmo
e suas digitais mórbidas a deturpar cristais de confiança
que me são entregues,
eu sou um pobre com teto de vidro,
cobrindo este albergue, em que moro,
às vezes vivo...
Onde às vezes eu choro alguns desejos até fúteis e,
reconhecendo essas frivolidades,
começo a dissipar o céu púrpuro a qual me encontrava,
povoado de gárgulas que no fundo não passavam de pardais,
dramático que sou, que lúgubre tornei o ambiente de sol tão morno,
tão fim de tarde e harmonioso.
Preciso urgentemente aprender a amar,
a começar por mim ou ninguém o fará.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ELE  LATE  A  QUE  VEIO

Cãozinho feio é o Pipo
Que feiúra mais agradável
No seu topete que todos brincam
Todos o abraçam e todos lhe falam
Que lhe amam pois é o cãozinho mais feio
E ele late a que veio

Dorme na cama, almoça na mesa
Ele quase reclama, ele sempre nos beija
É o amigo que sempre me espera, sempre
Mesmo quando eu não chego, eu penso:
Quando chegar, vou findar seu anseio
E ele late a que veio

Cãozinho mais pidão
De patinha mais insistente
O tempo todo e todo dia carente
E não é que ele tem até travesseiro
Esse cãozinho do mais feio
E ele late a que veio

terça-feira, 6 de dezembro de 2011


COITADO  DO  JOSÉ

Coitado do José
Que se quiser chegar, imagina, vai a pé
Sua condução são duas pernas, fortes,
Inabaláveis como sua fé
Pobre José...

Sua única certeza
É não saber o que terá sobre a mesa
Sua dúvida, queimada na fogueira santa
Carbonizada de esperteza
Pobre José...

Sua fiel esposa
Desde moça é dedicada obreira
Recolhe os donativos da última
À primeira fileira
Um é do José

O bom pastor
Homens de muitos bens, adquiridos dos “améns”
Ressalta o valor desigual do sacrifício
A salvação se compra e ela vem
Uma é do José

Os dois filhos,
Também os sobrinhos, saíram-se aos seus
Membros da igreja do Reino de Deus
Ninguém lê notas de rodapé
Nem o José.

Coitado do José...