PELAS NOITES ESCURAS DE
JACAREÍ
(Ao amigo Cleber
Willian)
Você, caríssimo conterrâneo,
poderia estar matutando
num daqueles becos
escuros de Nova York, sem saída,
rodeado por escadas de
incêndio, caçambas de lixo e
poças d’água.
Como revérbero, a lua.
Você poderia estar lá,
sentado como num escritório particular e público,
em frente a uma
máquina de escrever do século passado,
olhando a fumaça do
seu cigarro subir por entre as gotas da chuva fina.
Um paletó surrado e
uma garrafa de Jack Daniel’s,
gatos sarnentos na
espreita, observando a ébria inspiração.
Seria cinematográfico.
Não seria, Sr. Willian?
Mas o seu beco escuro
está aqui em Jacareí,
em qualquer canto da
cidade,
dentro de algum quarto
meio iluminado talvez mas,
você deve pairar no ambiente
com a mesma expressão reflexiva,
rodeado da mesma
fumaça de cigarro, a debater com sua rebordosa,
questões de
repertório, o sexo, a vida e a alma. Como será o próximo ‘curta’?
Em longas tragadas o
amigo pensa, eu sei. Long Beach? Talvez.
O teu talento germina
por aqui, sem a chuva ácida da ‘Grande Maçã’,
sem o agrotóxico
capitalista, entende? Tua poesia está por aí,
pelas noites escuras
de Jacareí.
Mas digo ao amigo Cleber
Willian que sua reunião
de palavras foi
saboreada ao som de Tom Waits
ao qual achei
apropriado, foi na medida do possível compreendida,
ou não, mas pra que
compreensão?
Somos o que somos e
você é singularmente o contista,
autobiográfico,
cínico, calmamente desesperado,
bêbado e lúcido.
Boa sorte!