CHEIRO DE CHUVA
Estou só em casa com o calor da primavera,
a meu favor, o gelo da cevada
dentro do entardecer do sábado,
a noite agora é muito jovem em Jacareí,
é jovem no meu sudeste.
Existe uma chuva de possibilidades
que cai junto com a água.
Tantas promessas lá fora mas não são minhas.
Estou bem, estou no meu canto.
O som que chega aos meus ouvidos no quarto,
entre as gotas da chuva no telhado, é anos 60,
me enfeitiça.
Tenho um caderno amarelado pra rever,
já debutante e com orelhas,
e um fumo achocolatado pra queimar. Estou bem.
A pouco eu tinha um tênis cheio de chão
que joguei de lado, descanso agora,
regata no corpo e na mente um escopo
da mais possível felicidade,
que esculpi de modo bem simples.
O essencial está na conta dos dedos.
Após abrir a porta,
me invade um cheiro de asfalto molhado
que só faz sorrir,
e assim parece que a vida é nova em folha.