segunda-feira, 26 de março de 2012


VIDA SEM ENSAIO

Essa coisa da vida não ter ensaio
é um perigo,
um atentado contra o futuro.
Perdi de súbito o amor,
me levaram o humor,
tudo do dia pra noite.
Nem pude dar queixa.
Isso assim me deixa
sem tanta esperança,
mas ela é brasa...

O que eu quero apenas é lhe dizer,
com seu rosto entre minhas mãos,
que uma vida é pouco pra viver contigo,
décadas são poucos dias ao seu lado.
E sou teu amigo. Isso é mais!

Essa coisa da vida não ter ensaio
é um castigo,
te arrasta à caminhos distintos,
longos e sem tempo previsto,
pra voltar e remediar...
Ah, quem, dera pudéssemos consertar
o passo dado e a palavra expelida...
roupa manchada nunca cai bem.

domingo, 25 de março de 2012


FLORATTA  IN  BLUE

Sentado à pose de Rodin e muito menos emblemático,
sou apenas um homem com memórias, vastas.
No labirinto incrustado dentro do baú
de lembranças colecionadas ou não, há tantas.
Imagens de lábios, rabiscos de olhos salpicados de azul,
outrora castanho, as imagens são múltiplas e sem tamanho.
Campos e bangalôs, ondas, areia branca,
cheiro de chá que é de camomila
ou um livro que breve se termina,
deliciosamente novo, em folha.
Me lembro agora de minha atenção
algumas vezes seqüestradas pelas ‘damas da noite’,
aqui mesmo na vizinhança, rápido crime que perdôo.
E muito prazeres mais guardados nos compartimentos mentais,
auditivos, olfativos... Um se sobressai ligeiramente,
me embriaga de outras tão boas memórias.
O olfato me privilegiou um dia e tenho a grata lembrança
do entorpecimento e teu doce veneno me invadiu pelas narinas.
Confortavelmente anestesiado, talvez,
ante a química da alva pele recebendo a Floratta,
depois disso mais nada.
É ver o mundo parar por um instante
quando essa água das flores na sua pele é sorvida,
inexplicavelmente sedante.

sábado, 17 de março de 2012

BARRACÃO  DE  ZINCO

Imaginem que dentro daquele barracão de zinco
Existe uma mulher (e existe mesmo) solitária.
Solitária de muitas coisas que não convém
Começar a dizer.

Ela mexe um pedaço de pau dentro da panela torta
Nas poucas coisas que há pra mexer
Enquanto observa com o rabo do olho
Sua saia feita de crianças (ao que lembra, todas são dela).

Também há um cachorro sem raça e sem nome
Que vagueia por entre as tábuas, apenas ilustra a cena
Seco como o agreste, e o coração da mulher pequena
Que existe com o cachorro no meio da cena urbana
(e existe mesmo)

terça-feira, 13 de março de 2012


UM  CAFEZINHO...

Eu estava próximo do balcão onde pedimos diversos,
onde amostras de massas tantas, sedutoras, nos extraem saliva.
A padaria.
Tem um comércio desses, de delícias diversas
na esquina da minha casa,
padarias daquelas que se impõem e ostentam o nome do bairro,
como que oficiais.
Meu guarda-chuva em punho, incômodo, ali comigo esperava,
frente ao balcão, cárcere de delícias.
A funcionária, dentro de seu uniforme vermelho e branco,
passou levemente,
e ao senhor que estava do meu lado perguntou: ‘Quer um cafezinho?’
Ao que o mesmo respondeu afirmativamente.
Hum, naquela tarde chuvosa cairia bem, mesmo naquela movimentação,
naquele entra e sai, um cafezinho...
e aquele senhor devia ser conhecido da funcionária,
ou ela ofereceria à mim também, um quem sabe fresco cafezinho...
Qualquer um aceitaria, imagino então aquele que avisto na avenida lá fora,
indiferente a chuva e protagonista da tarde, eis o catador de trecos,
imagine um caricato catador e adicione cinco amigos caninos, inseparáveis.
Esse protagonista da avenida abriria um sorriso para um bom cafezinho...
Bom, a balconista pescou minha atenção
e pedi à ela então o famoso pãozinho
que nunca foi francês, mas tava quentinho,
esperando encontrar em casa o que cheira longe, um cafezinho.

domingo, 11 de março de 2012


TE VER DE VERDADE

Quero te conhecer melhor, te peço,
em outro lugar, que não aqui entre tantos kbytes.
Quero troca de olhares, quero adivinhar expressões,
e acompanhar o movimento dos lábios,
como as letras passam em cada sulco de lábio.
E até mesmo como o vento mexe teus cabelos,
pedindo licença, imagino uma valsa lenta.
E sentir a textura da sua pele,
e saber se ela queima.
E saber tanto de pouco tempo. 
Ver como se guarda na roupa,
e como os pés te levam e te trazem,
e como é a graciosidade ao vivo
daquilo que me chega em palavras,
quero te ver de verdade.

As possíveis oscilações da sua voz
conforme o assunto.
Se teu humor é agridoce e se o amor,
talvez seja palpável.

Ansioso que sou também quero me ver,
e me sentir com tua influência,
assim tomar ciência do que me espreita,
se há suspeita, e há,
de perder as únicas cópias ou não,
das chaves do meu coração

quarta-feira, 7 de março de 2012


SOBRE O QUE NÃO SABEMOS

Tenho pensado no cosmo mas não me conformo
Com tamanha vastidão... tenho pensado em vão.
Tenho pensado em coisas poucas, porém infinitas,
Estrelas bonitas que eternamente brilharão.

Tenho pensado em rotas através do universo,
Tudo que em poucos versos não se explicarão
Tenho lido teorias loucas, astronautas sem roupa
Vestígios de um tempo que não havia previsão.

Tenho imaginado galáxias distantes, aonde amantes
Tocam-se as mãos, que lá também disparam corações
Projetam-se segredos em cometas nunca visto antes
Desde planeta cheio de deuses, morando em tantas orações

Tenho sonhado com moais, e antigos ancestrais
As clâmides sobre os homens, pirâmides, e esferas
Tenho vagado por círculos, os ingleses e os demais
Tudo que pouca massa sobre os olhos não tolera

Tenho observado luzes e também tonalidades
E na imensidão dos olhos não há nenhum porque
E se você diz que entende qualquer Stonehenge
Eu finjo acreditar, apago o sol e vou em frente

domingo, 4 de março de 2012


É COMUM MAS NÃO É NORMAL

Não nego! Fiquei tão decepcionado,
trincado  com a revelação, porém, não demonstrei,
apenas acariciei o suor do copo
num reflexo de meu corpo desobediente.

Ela, que dava a garantia do doce nos lábios,
esses mesmos de que brotaram o anúncio.
Ela, que sem tirar minha pergunta pra dançar,
renegou seu próprio gênero. ..
Isso é a mudança do mundo
a girar num eixo de novas ideias ...

Cheguei em casa às 2:15, não soube ao certo
com o que preencher o copo,
como preencher os olhos ou
como dar a descarga daquele dia,
carregando as pretensões a perder-se de vista.

Não nego!
Fiquei tão decepcionado que ri para me aliviar,
liguei aos amigos e contei  em tom de piada,
que eu não tinha nada para esconder,
e não tinha mesmo, e não tenho,
todos devem ter percebido,
que o giro do mundo é outro,
fico um pouco enjoado com a nova rapidez,
que já me disseram:
É comum, mas não é normal.

sábado, 3 de março de 2012


DEPÓSITO DE CÉREBROS PÚBERES

Há uma massa,
Mas não como as delícias de receitas
Há um punhado,
Como se de canhotos zeros fossem feitas
Há uma parcela,
De futuro, num quarto escuro sem janela
Há invisível cela,
Trancafiando mentes, ao porão sem vela
Há um grupo,
De futuro mudo, sem assunto?
Há assunto!
Mas as palavras sofrem em desuso
Há um uso,
Mas o musgo, emperra as claras idéias
Há rotinas fúteis
Que ambientam essa morte lenta
Há de haver ajuste
Neste breu em que o ócio jovem se condena
Há nuvens também,
De esperanças brancas de algum dia
As sementes vinguem ainda que tardia