sexta-feira, 8 de julho de 2011

MOSAICO

Meus cabelos no espelho, tão desgrenhados,
com as voltas infinitas pra lugar nenhum,
se perdem entre os desconhecidos, mulatos e albinos,
se espreguiçam na manhã. A manhã de quinta, como a de sábado,
me mostra a mesma sobrancelha, espessa,
na cara desse homem comum.
Esse rosto tão assíduo a princípio não é cínico, é pálido,
fantasmagórico, e de súbito vejo um vinco,
a imperfeição passageira que um dia chega e fica.
Onde ela mora enquanto isso?
A rotina já está chegando e tem cheiro de café e pão francês,
usa relógio nos dois braços, fora o do aparelho celular.
Há aparelhos por toda a parte, todos marcam hora
e são precisos, mas por que preciso deles? Eu necessito?
Meu rosto ainda não saiu do mosaico,
com as pedrinhas se ajeitando atônitas,
procurando seu lugar até o dia em que não o acham mais.
O dia-a-dia não segura de manter todas as coisas e todas as faces.
Perdem-se pessoas, jogos, desejos e a fé.
Não perdi a fé como se perde cabelos,
disfarçadamente ou sem perceber. Será?
Foi olhando para o infinito, para dentro do azul
onde havia um astronauta desenhando nuvens
com sua carruagem de fogo e, de pronto, fiz o sinal da cruz,
como bom servo que sou.

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