quarta-feira, 2 de novembro de 2011


CRIME CONTRA O ALVADIO

Estou em frente a uma folha em branco
que me assusta, me custa encara-la.
Talvez eu a suje com letras
que poderia não ter reunido
pra formar palavras que falhem no sentido
de explicar o que não foi vivido,
ou não correspondido, o fleuma deste espírito.
A folha limpa...
Acho um crime inafiançável contra alvo objeto,
deflorar sua pureza com queixumes,
em forma de letras escuras, que tiro do peito
expelindo-as pelos dedos, friamente.
E assim, como um cenário de qualquer crime,
na calada da noite eu respiro fundo
o quanto posso, onde cabe um minuto,
e disparo rajadas de palavras amargas
contra inocente vítima, outrora branca.
Assim, consumado o ato vil, nada termina.
O alvo papel agora viverá para sempre,
em resposta contrária ao meu objetivo,
o rancor expelido volta comigo,
enquanto dou as costas para a vítima,
vou me deitar com o dobro do fardo,
com o ato do crime registrado em cartório,
e a pena de sentir no peito
tantas outras palavras escuras.
Certamente haverá outras alvas vítimas.
E tantas outras experiências duras.

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