terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


AMIZADE  MORIBUNDA

Venham ver o que há dentro da caixa de vidro.
Entre por aqui, por entre os arcos das portas.
A amizade está ali, intacta, não morta, mas estagnada.
Sob um lenço de pó. Está ali deitada a pobre, a coitada.
A amizade está em coma, ela já não faz mais soma,
padece estranha.
Eu, assim como muitos, também quero saber o que aconteceu à ela,
outrora singela. Também lanço perguntas a esmo.
Quem adoeceu a amizade?
Terá sido o tempo?
Terá sido o silêncio?
O talvez...Talvez o carpete...
Mais pessoas chegam para constatar o drama,
todos limpando as botas na entrada.
E fazem da pequena casa o grande Museu do Louvre,
olham as janelas como pinturas vivas. Acham Monalisas lá na rua.
Quem olhou pro teto viu semelhança com a Capela Sistina, imagina.
Até Rafael viram. Servi café, servi chá,
depois bolinhos de arroz com atum,
com grande sucesso de apreciação, servi gentilezas.
Alguém mencionou Olimpíadas e assuntos
se locomoviam tal trânsito indiano,
tudo muito confuso mas sem dano.
Daí todos se lembraram de um compromisso,
cada qual com sua urgência, uns iam resolver divórcio,
outros iam resolver carência.
Escoaram todos pelo ralo e pelas frestas.
Até eu me vi no meio de um tumulto qualquer
do dia-a-dia numa esquina lá do centro.
A amizade, moribunda, ficou lá, à sua própria sorte.

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