domingo, 26 de agosto de 2012


PELAS NOITES ESCURAS DE JACAREÍ
(Ao amigo Cleber Willian)

Você, caríssimo conterrâneo, poderia estar matutando
num daqueles becos escuros de Nova York, sem saída,
rodeado por escadas de incêndio, caçambas de lixo e
poças d’água.
Como revérbero, a lua.
Você poderia estar lá, sentado como num escritório particular e público,
em frente a uma máquina de escrever do século passado,
olhando a fumaça do seu cigarro subir por entre as gotas da chuva fina.
Um paletó surrado e uma garrafa de Jack Daniel’s,
gatos sarnentos na espreita, observando a ébria inspiração.
Seria cinematográfico. Não seria, Sr. Willian?

Mas o seu beco escuro está aqui em Jacareí,
em qualquer canto da cidade,
dentro de algum quarto meio iluminado talvez mas,
você deve pairar no ambiente com a mesma expressão reflexiva,
rodeado da mesma fumaça de cigarro, a debater com sua rebordosa,
questões de repertório, o sexo, a vida e a alma. Como será o próximo ‘curta’?
Em longas tragadas o amigo pensa, eu sei. Long Beach? Talvez.
O teu talento germina por aqui, sem a chuva ácida da ‘Grande Maçã’,
sem o agrotóxico capitalista, entende? Tua poesia está por aí,
pelas noites escuras de Jacareí.

Mas digo ao amigo Cleber Willian que sua reunião
de palavras foi saboreada ao som de Tom Waits
ao qual achei apropriado, foi na medida do possível compreendida,
ou não, mas pra que compreensão?
Somos o que somos e você é singularmente o contista,
autobiográfico, cínico, calmamente desesperado,
bêbado e lúcido.
Boa sorte!

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