quinta-feira, 27 de outubro de 2011


A DANÇARINA NO ESCURO

Havia uns meninos empinando pipa
Na rua de casa ao anoitecer
E ficaram ali indiferentes ao cair da noite
No meio da rua, no meio das calçadas
Eles empinavam o nariz e fitavam
A dançarina frágil de papel
Que se perdia no escuro
Haviam dois em cima do muro
Haviam três ao lado da escada
Havia nada além do diálogo mudo
De tanto que se concentravam

Os meninos não tinham mais casa
Nem fome nem nome já eram lembrados
Tinham somente o medo que extravasa
De perderem seu ponto, de cortarem seus laços
O sobrenome então, menos importa
E eis que algo os força a correr desesperados
É a dança que descompassa no lenço negro
Ainda é visível ao longe o desassossego
A dançarina que cai e rodopia sem pressa
Já entre estrelas que só os meninos enxergam
Linha tênue no teto de ébano

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