domingo, 14 de agosto de 2011


ENTRE ABISMOS

Vou escrever sobre nada, minhas mãos pesadas
estão no ritmo dos pensamentos mornos, distantes.
Mãos cheias de vício. Dedos exaustos.
Se eu estivesse debruçado em uma caneta, pouca tinta teria.
Se eu estivesse de fato escrevendo algo, não seria isso.
Se eu pensasse... talvez ainda fosse omisso.
Meu raciocínio perambula entre abismos...
E tenho um teclado indecifrável à minha frente,
colossal e negro. Letras reunidas como assembléia dos sindicatos,
a querer saber o que vai ser, o que vou tecer.
Oras! Serei evasivo. Destilarei o vazio,
tudo aquilo que não está acontecendo e nem aqui está. Nem lá.
Escreverei sobre o nada pois assim acabarei inócuo.
(bom saber que todos sairão ilesos)
Então deixe-me dizer sobre o vácuo,
sobre o oco e sobre o espaço.
Notaste este espaço entre nós?
Me deixe discursar sobre as áreas desabitadas.
Tanto as do solo quanto às do coração. 
Sobre sombras e madrugadas.
Pois sempre dentro de um afeto existe um vão.

Um comentário: