domingo, 21 de agosto de 2011

VIZINHAS, VASSOURAS E JANELAS

E eu me pego cismado
subindo de moto aquela rua de paralelepípedos
onde as casas não tem número fixo
e as senhoras figuram na calçada
a conversar com as vizinhas
e a se apoiar nas vassouras velhas.
Onde estão seus maridos?
Um se acha enterrado no sofá,
outro faz bico no posto e outro jaz no Santo Antônio.
E porque suas línguas coçam e suas mãos fazem gestos circulares?
Devem estar debatendo sobre tudo aquilo
que não as deixam dentro dos lares,
deve estar faltando troco das coisas dos bares,
devem estar julgando as ditas vulgares,
vivem dentro dos seus lares, somente a resmungar,
sua solidão e seus penares.
Depois do almoço, depois do rádio e se caso achares,
avistarão de suas janelas floridas outros exemplares,
outras vidas parecidas e menos capazes,
de sair deste círculo que roda feito uma saia,
debruçam com as samambaias,
suas folhas, seus anos, suas receitas,
contam seus segredos e seus medos
no portão da outra calçada, seus pares.
A garagem é o quintal dos pesadelos.
Poeira que levanta, folhas que dão licença,
motos que passam, assuntos que sustentam,
tantos assuntos pra amanhã.
Sábado tem procissão e por falar nisso, que horas são?
Agora é hora da novela, fecha a janela pra não entrar pernilongo,
esquenta a janta depois do final, não adianta, todo dia é perenal.

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